Ficar insensível é a solução?

Como me mudei na semana passada, estava vendo nas minhas coisas o que iria jogar fora e o que levaria para a nova moradia. Acabei achando um espaço do guarda-roupa lotado de caixas de ex-namoradas. Algumas caixas tinham 10 anos e eram coisas que a minha primeira namorada me deu. A mais nova era de dois anos atrás.

Não as via há um bom tempo, então, inevitavelmente, abri algumas para conferir o conteúdo de cada uma. As mais antigas tinham de tudo: cartas, fotos, pelúcias, presentes, até vidros de perfumes vazios e qualquer outra coisa que me lembrasse da namorada. Eu realmente guardava tudo. Tá certo que as caixas eram presentes da própria namorada para eu colocar os itens, mas tudo estava lá.

Quanto mais recentes ficavam os namoros, menores eram as caixas e também seus conteúdos eram mais escassos. A mais recente apenas continha cartas, bilhetes e presentes. Nada de lembranças como as mais antigas. E nesses últimos anos sem caixas, eu não me relacionei? Na verdade, sim. Tive namoradas sim e relacionamentos bem sérios. Então deixei de ganhar presentes? De modo algum, eles continuaram. No entanto, não estavam mais em um lugar apenas. E as lembranças de momentos? As fotos e vídeos estão em dvds guardados junto com os outros, as pouquíssimas cartas (que não viraram e-mails), espalhadas e perdidas; e os presentes por todo o quarto.

Lembro que durante os primeiros namoros, ao receber uma carta, por exemplo, eu a abria na hora e lia. Ficava extremamente feliz e a guardava em algum lugar “especial”, vulgo caixa da namorada. Isso a estimulava a fazer mais e mais. Com o passar dos anos e novos namoros, ao receber uma carta grande, eu nem tinha paciência para lê-las e as deixava de lado para depois. Sendo que o depois nunca ocorria. A frase mais comum de abertura das cartas era “Amor, eu sei que você não tem paciência para ler cartas grandes, mas…”. Consequentemente, as pessoas com quem me relacionava, não escreviam mais pra mim.

Esse processo de “esfriamento” é comum em praticamente todas as pessoas. Vamos sofrendo com fins de relacionamentos, e nos tornamos menos sensíveis. Abandonamos as coisas que faziam com que nos apegássemos mais ao parceiro. Escrever ou ler cartas, pra que? Surpresas? Só em datas comemorativas e olha lá. Por falar nelas: se hoje o dia será cheio, por que não comemoramos o dia dos namorados ou o aniversário de namoro amanhã? E as fotos? Se temos no computador, por qual motivo iríamos imprimir e colocar em porta-retratos?

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O ato de insensibilizar a si mesmo é utilizado geralmente como técnica para evitar a dor. Com o passar do tempo, a pessoa simplesmente cansa de se apaixonar de verdade ou até passa a não se importar mais com nada.

Há quem diga que é mais feliz assim, outros alegam que é o melhor modo de evitar a dor de verdade. Mas você não sente falta de ter os sentimentos descritos no post “O Amor”, do nosso ex-autor português Pedro Lino? Cada vez é mais incomum sentirmos algo assim ou passarmos por esse processo todo, pois não queremos mais sofrer, então pensamos “não vou esperar nada dessa relação”. Mas e se a outra pessoa tiver aguardando que você se dedique para poder dedicar-se? E se você não tomar iniciativa e o pretendente também por não perceber que existe interesse? E se ele estiver aguardando o seu primeiro passo, ligação, SMS ou convite?

“Ah, se ele não ligar, não era pra ser. Tem quem ligue”, você responde. Deixamos de nos importar pelas pessoas e passamos a pensar apenas em nós mesmos. Ficamos mais racionais, paramos de esperar tanto do amor, crescemos e amadurecemos.

Sei como é isso, pois, como todos, também passei por esse processo. Realmente não sentimos (ou sentimos menos) dor, mas você é completamente, cem por cento feliz?  Feliz de verdade? Sente aquela sensação que te preenchia apenas por estar com alguém, quando você era apenas um adolescente; o frio na barriga ao ir a um local apenas esperando encontrar esse alguém, ou o nervosismo ao falar com certa pessoa, perder a concentração ou não saber o que dizer ao estar conversando com ela, vibrar de alegria ao receber uma mensagem simples como “Queria que você estivesse aqui” ou ter aquela sensação indescritível que é beijar quem realmente amamos profundamente… não sente falta de nada disso? Eu sinto.

É importante salientar que não estou dizendo para voltarmos aos tempos da puberdade e idealizar tudo, nem  para esperar demais de todo projeto de relacionamento. Devemos ir com calma, sim. Mas não guardemos apenas as coisas ruins que passamos. Podemos utilizar os erros cometidos para ganhar experiência e não repeti-los, mas não para pré-julgar as pessoas por atos que foram realizados contra você no passado. Se você foi traída por um, dois ou três namorados, não significa que todos traem. Se teu marido mudou depois do casamento e ficou violento, saiba que não são todos que agem desta maneira. Na verdade, apenas a minoria. Curemos nossas mágoas, remendemos nossos corações e acreditemos nas pessoas, sempre com cautela, claro.

E se você vier me falar que no mundo atual todos só querem farra, ninguém quer nada sério e por isso não adianta ser correta,  romântica ou direita, eis sua resposta: as coisas chegaram ao ponto que estão devido a maioria das pessoas pensarem do mesmo modo que você. Se quem sente falta de tudo que comentei aqui e gostaria que as coisas fossem diferentes, agisse do modo que descrevi, seríamos não apenas a minoria, as exceções, mas uma grande parte da população.

A minha parte está sendo feita, e a sua?

Alexandre Chollet

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Um amigo que fala a realidade na cara, sem mimimi ou enrolação. Conta a mais pura e simples verdade, doa a quem doer.

16 comentários No Ficar insensível é a solução?

  • Nicollas Souza

    curti.-.

  • Gostei muito do seu site e dos seus textos. Parabéns! 🙂

  • Cara Ana,
    infelizmente não sei sobre qual artigo você se refere, pois tenho mais de 200 artigos aqui. No entanto, você não poderia ter interepretado mais erroneamente este.
    Este artigo fala basicamente que não adianta ficar insensível depois que um namoro acaba, que não devemos nos fechar por conta de traumas passados. Que assim que superamos o fim, devemos nos abrir para novos relacionamentos; fala para nunca virar uma pessoa fria e insensível. Analise o texto como um todo, não isole parágrafos.

    Relacionamento não segue regras… mas os textos devem ser interpretados do modo que o AUTOR quis passar. Acredito que o texto esteja claro, mas vou explicar novamente os pontos que você abordou..

    1- Se você está saindo com alguém, não custa nada chamá-lo para sair, demonstrar interesse, etc… Porque muitos homens também esperam que a mulher faça isso para continuar investindo nessa pessoa. Então faça o convite, sem problemas. –> Isso que esse texto fala.

    Se você chamá-lo para sair e ele disser que está ocupado (e realmente estiver e isso não for desculpa), assim que ele tiver tempo livre VAI TE PROCURAR… ou vai falar quando terá tempo, combinar algo.. apenas “nao dá, estou ocupado” é um modo educado de dar um fora e algo bem diferente de “poxa, infelizmente não dá, tenho X para fazer… mas no sábado pela tarde estou livre, caso voce queira ir pro cinema”, não é?

    2- se você chamou repetidas vezes, ele não demonstra interesse, apenas diz que está ocupado, não te convida para nada nunca, então não tem interesse.. ou se vocês ficaram uma vez e ele não te convidou nunca mais para nada.. é provável que nãos esteja a fim.. –> isso que o outro texto fala

    O que mais parece é você agindo como mulher, ou seja, justificando as coisas, criando coisas, para não enxergar a verdade simples…

    Entendeu a diferença entre os dois textos? Tem que ler prestando atenção hehe.

    Beijos e muito obrigado pelo comentário.

  • Caro Dr. Neuro

    Este artigo está em contradição com aquele outro artigo, sobre mulheres que não querem acreditar no óbvio.
    Olha só: “Mas e se a outra pessoa tiver aguardando que você se dedique para poder dedicar-se? E se você não tomar iniciativa e o pretendente também por não perceber que existe interesse? E se ele estiver aguardando o seu primeiro passo, ligação, SMS ou convite?” Esta parte do artigo incentiva nós, mulhers a tomarmos a iniciativa caso o cara não tome. Mas segundo aquele seu outro artigo, se o cara não toma iniciativa de procurar é por que ele realmente não quer sair com a gente. Portanto, teríamos que nos conformar, parar de inventar desculpas para não enxergar o obvio e seguir em frente.
    Já este artigo diz que o cara não procura por que pode estar esperando que a gente procure. E então como fica? Resolvemos arriscar e procurar a pessoa ou tomar o silencio dela como um sinal óbvio a ser visto?
    Acho que nada é tão preto no branco. Se o cara diz estar ocupado, ele pode mesmo estar ocupado. Tem dias que deixamos de almoçar por excesso de trabalho não tem? Então acho q cada caso eh um caso e o que vale eh analisar cada um deles em separado. Obrigada e parabéns pelo site. Um abraço, Ana

  • Pois é caro amigo, o tempo e as experiências endurecem o coração dos desavisados. Acredito na entrega verdadeira, intensa como não podia deixar de ser, afinal a altura da queda é a mesma para ambas as partes, pra quê esconder o jogo? Fazer joguinhos de sedução pra mim é tudo de mais demodé que existe. As promessas da ressaca são necessárias, mas nem sempre são cumpridas, ou você não sente as pernas bambas quando aquela fêmea rainha aparece reluzente pra você? Voilá, pela sinceridade dos sentimentos.

  • Helcy Galindo

    Caramba! Vou tentar continuar tentando fazer minha parte, porque já estava ficando revoltada…com tanta presepada!

  • O texto é mto bom, mas infelizmente é natural que a gente se torne menos sensível à medida que vamos apanhando da vida.
    Eu nao sou uma “desacreditada”, mas nao sou mais a ingênua que um dia fui…

  • Alexandre, gostei muito da profundidade com que escrevestes! Beijos!

  • depois de algum tempo, de algumas experiências negativas fica dificil nao “endurecer” ou esperar o primeiro passo de alguém, pra não correr riscos… mas a vida é assim, a gente tenta buscar o equilíbrio cortejando bem de perto a insanidade, principalmente quando nosso coração está envolvido! O importante é, como foi dito, aprender e seguir em frente… Por vezes, baixei a cabeça, sofri, julguei mal… Hoje em dia percebo que vale a pena esperar por alguem que realmente se importa conosco, que olhe nos nossos olhos e diga o quanto nos quer bem! enqto isso, é ir mostrando como realmente somos e sendo como podemos ser!

  • Nossa Dr. que texto lindo, chega deu um aperto no peito,
    e um suspiro..rsrs
    Como eu queria viver isso, mas não encontro ninguém
    disposto a isso! 🙂

    Bjinhos

  • Pelo menos fez um bom uso das pelúcias doutor! 😉

  • Sarah: Guardava. As pelúcias viraram presentes pra sobrinha e o resto foi pro lixo 😛

  • Sinto muita falta do romântismo, das cartas escritas à mão. Hoje, ninguém tem mais tempo para se dedicar ao outro, cada um que cuide de si. Infelizmente, as pessoas estão insensíveis para não sofrerem, já tentei ser assim tbm, mas não consigo e por isso continuo sofrendo, pois está dificil encontrar alguém que tbm queira amar de verdade. Acho que a solução seria torna-se insensível mesmo, será?

  • Amei, amei, amei!
    Faz algum tempo que tenho pensado nisso e, creia, tentando fazer a diferença, mas que é difícil, asim, isto é! … e Muito!!

  • Lindo!
    Amei seu post… acho que mudar de casa está começando a fazer um bem danado a você.
    Minha nossa…encontrei alguém que também guarda caixas! hehehe
    beijuss da sara 😉

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