A odisséia de morar sozinha

Nesses dias estive refletindo sobre as vantagens e desvantagens de morar sozinha. Eu, que, pela primeira vez, tenho enfrentado essa odisséia, nos últimos 12 meses, comecei a pensar se realmente vale a pena estar pagando tão caro por ter essa vida privada e sem alguém por perto pra ajudar nas tarefas domésticas, na hora de ver filme junto, de dividir as contas… E quando falo em alguém não me refiro necessariamente a um namorado, porque são duas coisas bem diferentes, e acho que um relacionamento não deve ser baseado numa necessidade. Posso, sim, viver bem sozinha, mas em muitos momentos seria melhor com alguém do lado, seja essa pessoa uma amiga, namorado ou parente.

Como desde criança eu já queria ser independente, não tenho mesmo do que me queixar dessa vida, mas hei de escrever aqui algumas considerações para mostrar as vantagens e desvantagens dessa experiência enriquecedora, na qual nem tudo são flores.

Primeiro porque, morando sozinha, você precisa se preservar muito mais e ter o dobro de cuidado sobre em quem confiar. Como eu trabalho 90% do tempo em casa e moro em condomínio fechado, nunca tive problemas com isso, mas num âmbito geral, segurança é uma palavra-chave. É uma nova fase da sua vida e, diante de tantas novidades, dependendo da correria do seu dia-a-dia, a saudade até se camufla. Com a mente ocupada tentando acostumar-se com tantas mudanças, o coração, muitas vezes, é posto de lado. Durante minhas experiências morando no Exterior, frente a todas as dificuldades que surgiram, eu não sei de onde tirei forças, mas posso afirmar que tive uma ótima adaptação, especialmente em Nova York.

No início, é evidente que você poderá ter alguma daquelas típicas crises. Estranho seria não ficar triste ou sozinha em nenhum momento. Insegurança se tudo vai correr bem, saudade de casa, carência… Ah! A carência!… Nada como uma amiga nessas horas pra telefonar e chorar horrores, até ouvir que ela já passou por tudo isso. E em dez minutos, você já é outra pessoa. Nada como superar!

A odisséia de morar sozinha – fazer supermercado, cozinhar, lavar louça, arrumar a casa – é uma tarefa constante. Uma das mais cansativas pra mim, que estava sem carro, certamente, era a de ter que carregar as malas toda vez que me mudava e as inúmeras sacolas de supermercado depois de um dia exaustivo de trabalho. Ok, Ok. Nada aparentemente terrível se você não considerar que eu já tinha trabalhado mais de 10 horas num dia. No entanto, as facilidades da vida moderna, como os delivery’s 24 horas, banco, lavanderia, supermercado, etc, pertinho de casa compensavam outros esforços. Além disso, há de se considerar que, por não ter mais o conforto de morar com a família, você tem que pesquisar muito mais antes de comprar qualquer coisa e tem uma infinidade de contas pra pagar sozinha: aluguel, TV a cabo, internet, telefone, celular, supermercado, etc, etc (não vou citar tudo pra não ser taxada de consumista rs).

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Que saudade que dá de um arroz, feijão e bife quando a gente mora só… Pequenas coisas que a gente é tão acostumada quando mora na casa dos pais; o cotidiano que muitas vezes não damos valor quando temos ali, bem debaixo do nosso nariz… Nessa vida corrida em que fast-food chega tão rápido, como o próprio nome já diz, você se força a fazer supermercado e comprar frutas e verduras que, se descuidar, vão estragadas pro lixo no fim da semana. É… E quem disse que é fácil morar sozinha? E quem mandou você querer ser independente desde cedo?

No entanto, devo dizer: não há nada como a sensação de estar por conta própria, sob sua direção, trabalhando muito e sendo bem recompensada. E não me refiro apenas à compensação financeira, mas à experiência no geral; à sensação de estar sendo útil para outros e construindo algo para si mesma. Assim que a gente começa essa nova fase, acho que tem que passar por tudo mesmo, afinal, morar só não é apenas uma questão de privacidade. É aprendizado, amadurecimento… Nada como se orgulhar de ter trocado a lâmpada, pendurado o quadro, instalado os eletrônicos, desentupido a pia, comprado seu primeiro sofá e arrumado tudo no seu cantinho pra ficar a sua cara.

Se for pra viver só, que se aprenda algo, que seja intenso. Porque não adianta evitar o erro. Tem que queimar o feijão alguma vez na vida, manchar a roupa e perder a timidez quando precisar pedir ajuda aos vizinhos que estão passando porque você não sabe o número da entrega de pizza às 2 da manhã. Quanto à privacidade, nada como poder receber os amigos sem se preocupar de estar incomodando alguém, poder ouvir música alta de madrugada (contanto que não incomode os vizinhos), ver filme até altas horas e não ter que dar satisfação dos seus horários meio loucos.

Bem mais importante, a maior recompensa da odisséia de morar sozinha é o quanto você aprende sobre si mesma. Por estar apenas sob seus cuidados, aprende o quanto é forte; o quanto pode lidar com inúmeras situações e dificuldades. Mais que isso, aprende a tornar-se mais convicta no que acredita; que suas crenças se fortalecem na mesma proporção em que você cresce como ser humano.

Carol Ventura
http://www.myspace.com/carolventura

Jornalista, cantora e jogadora de poker.

11 comentários No A odisséia de morar sozinha

  • Bem mais importante, a maior recompensa da odisséia de morar sozinha é o quanto você aprende sobre si mesma. Por estar apenas sob seus cuidados, aprende o quanto é forte; o quanto pode lidar com inúmeras situações e dificuldades. Mais que isso, aprende a tornar-se mais convicta no que acredita; que suas crenças se fortalecem na mesma proporção em que você cresce como ser humano.

  • Here we go again…. Living by myself in sao paulo.

  • jaciara carreira

    Carol.
    Adorei seu carinho com a gente, agradecendo nossos comentários.
    bjs

  • Carol… tijolos, tintas, azulejos….
    É diversão na certa hehehe
    beijuss 😉

  • Nossa Dani, fico feliz q sua experiência, apesar de dura no início, esteja dando certo! Eu tb amo morar só! Não citei no texto q tb é muito bom poder ficar bem à vontade de camisola e pantufa o dia todo hahaha

    Gostei do q vc disse de querer q a pessoa q vá dividir com vc seja alguem que possa contribuir pra seu crescimento e não apenas uma preseça para prencher o vazio. Concordo 100%.

    Obrigada Jaciara e Pathy! Tb ja morei com amigas, e apesar de tb ser bom, tb tem seus pontos negativos. Acho mais fácil qndo é apenas uma do que várias. E sobre a carência, os amigos tb ajudam além do filme e do chocolate. rs

    Um bjo pra todas(os)!

  • Obrigada, Marcio! 😉

    Pois é Sara, eu agora tô nessa cisma de querer construir minha casa tb, mas já imagino o trabalho que vai dar. E pior! Não tenho idéia em que cidade vai ser isso, pq meu trabalho me permite viver em qualquer lugar e acho q Brasília ja ta dando.. rsrs Mas se eu puder comprar ap, até prefiro pq gosto da coisa social de morar em prédio já q sempre morei em casa.

  • Carol, parabéns pelo texto! Me identifiquei um pouco com ele! Sempre morei longe de casa, passei uns 4 anos no convento, depois disso fui morar com minha mae, a situação lá não era das melhores e precisei sair, fui morar a pouco tempo com duas amigas e vou te contar que no início foi beeeem difícil, mas hj eu vejo q foi a melhor coisa que já fiz, pois percebo q eu adoro a liberdade de ir e vir sem dar satisfações, cuidar das minhas finanças e poder receber quem eu quizer a hora q eu quizer… Claro, ainda não moro sozinha, moro com amigas, mas o próximo passo, depois de formada, será morar sozinha!
    Bom… as vezes sinto uma carência danada, mas nada q um chocolate, um filminho beeem romantico e muita choradeira não resolva! ehehhe!

    Um beijo!
    Pathy
    🙂

  • jaciara carreira

    NUnca tive ess experiência, deve ser interessante, apesar que sou mais aquela coisa de família italiana, que mora todos juntos.Acho muito mais divertido, toda essa bagunça familiar.
    Gostei muito do seu texto, e se tivesse uma filha daria a maior força dela morar sozinha, para ter outras experiências, diferentes da minha.
    bjs

  • Daniela Santos

    Ola,

    Adorei !
    Eu estou passando por este dilema, moro sozinha a mais ou menos 6 meses e tenho orgulho disso, quando troco uma lampada , e tenho que resolver tudo e não preciso pedir permissão para pasar o canal de tv a ninguem . Tomei essa decisão logo que completei meus 29 anos , tive um relacionamento de 8 meses em que meu namorado exigia que eu casasse , mais não era que eu realmente queria e meio a brigas e entre outros motivos , resolvi sair da casa de meus pais e largar o então namorado que queria um compromisso firmado ,Me mudei para outro bairro , foi uma barra no começo mais valeu a pena .
    Tem vezes que da uma saudade da casa da mae , aquela boa vida. Eu vou lá e mato a saudade mais volto para minha realidade novamente.Voce se torna mais responsavel e aprende a se cuidar, e alias não tem ninguem para encher seu saco o tempo todo reclamando da bagunça, mas é claro que agora eu mantenho as coisas em ordem sempre para ganhar tempo , ja que tenho que dar conta da casa , fazer compras , tirar o lixo etc.
    È bom vc ter alguem para conpartilhar seu dia , quando vc chega do trabalho e ter alguem para te dar um abraço e carinho, sinto falta disso , mais quero que seja alguem que possa contribuir para meu crescimento tambem , não seja apenas uma preseça para prencher o vazio. Estou aprendendo muito com essa esperiencia e esta sendo muito benefico , mas não pretendo ficar sempre sozinha, quero encontrar alguem que me transmita segurança e possa me apoiar e me fazer companhia, pois o homem não foi feito para viver só. Por isso que Deus criou Eva para ser conpanheira de Adão então a finalidade dele é que o homem possa se unir.
    um beijo

    Gostei muito deste site.

  • Melhor que morar sozinha é construir a casa que vai morar sozinha.
    Da o maior trabalho Carol, mas depois como você disse. Vale a pena ver o resultado da experiência.
    beijuss 😛

  • Excelente texto Carol, parabéns!!!

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