“Macabéa, querida cadê você; como vai você minha amiga? Já melhorou; colocou a tristeza e a apatia para correr? Macabéa me responde por favor! Clarisse, cadê a Macabéa?”
Gente, a Clarisse me disse que Macabéa, não quer falar com ninguém – estou achando que ela desistiu da vida…
Já sei vocês não sabem quem é a Macabéa; vamos lá?
Macabéa foi uma personagem de Clarisse Lispector (1925/1977) no romance “A Hora da Estrela” em 1977. Com seus dezenove anos, virgem e sem estudo, Macabéa decidiu deixar o sertão de Alagoas e veio para o Rio de Janeiro. Morava com mais quatro amigas na Rua do Acre, trabalhava diariamente e datilografava copiando letra após letra para não errar a frase; foi demitida por cometer erros de ortografia – ao reagir com um pedido de desculpas, acabou amolecendo seu chefe que por admiração e também a pena, decidiu não mais demiti-la. Macabéa, não tinha perspectiva de vida, e a olhava como algo corriqueiro, sem sentido e propósito – ela olhava avida como algo que apena é e acabou gente. Não questionava absolutamente nada, exatamente nada, detalhe – nem sei como pediu desculpas pelo seu erro; desculpa essa que teve o poder de mantê-la no emprego ainda. Magrinha tadinha, assim ela era sem nenhum sonho e objetivo, e acreditava ter sido soprada ao mundo como um cisco que cai nos olhos. Chegava ser tola e solitária, obediente e doce; alimentava lembranças de sua triste infância, e uma enorme saudade do que poderia ter sido, mas não foi. Seu único divertimento era ir ao cinema e mesmo assim: uma vez ao mês. E digamos que o que ela mais gostava era “Romeu e Julieta” – não o filme gente, mas o queijo com a goiabada. Sua única fantasia – a qual ela se permitia – era ser uma diva, estrela de cinema – como ela dava asas a sua imaginação e alimentava seus devaneios estando à frente de uma tela de cinema… Vocês não vão acreditar, sabe o que Macabéa fazia? Acordava mais cedo aos Domingos, apenas para ficar mais tempo, sem nada para fazer. Bem lá no cais do porto, sentiu seu coração bater mais forte, talvez um aperto ao chamado de um navio. Ela nem se importava e nem sabia o motivo, apenas queria e experimentava aquele momento em sua vida sem forma e sem propósito que só brilharia (infelizmente) na hora de sua morte. O mais peculiar momento de sua vida foi quando um carro lhe atropelou e dizem que acabou virando então uma estrela. E finalmente chegou a hora da estrela brilhar; será?
Não fique desanimada, achando não ser capaz de nada, existe um mundo ai fora a ser explorado e vivido; saia da sua caverna interior e não descarte mais a vida. Se você está aqui, é porque assim tinha – tem – que ser e dois pontos, agora começam a sua história. Não fique lamuriando-se, achando que é a última das últimas, e totalmente indigna, não! Acredite em si própria e faça a vida valer a pena, faça dos dias apáticos e negros, alegres e coloridos.
Chegou a hora da estrela, chegou a sua hora de brilhar, então levante a cabeça e vai buscar o seu caminho, ainda que esse caminho seja encontrado no caminho, ou seja, nele próprio.
Thiago Torre Forte
[email protected]
@ttorreforte @cerebromasc
www.thiagotorreforte.com
3 comentários No Chegou a hora da estrela!
Minha amada Macabéa, dócil , frágil, inocente, mas , acima de tudo, uma guerreira à semelhança dos Macabeus bíblicos, ainda que às avessas! Lindo romance versado nas entelinhas, no silêncio , no indizível….
Minha amada Macabéa, dócil , frágil, inocente, mas , acima de tudo, uma guerreira à semelhança dos Macabeus bíblicos, ainda que às avessas! Lindo romance versado nas entelinhas, no silêncio , no indizível….
Thiago, incrível imaginar que nos dias de hoje, existam mulheres como a descrita acima! Uma lástima mesmo, depois de tudo o que estamos conquistando há anos. Essas mulheres precisam é de uma injeção de auto-estima elevada!!!!beijos