Coisas boas…e não tão boas assim.

Olá queridos

Há um tempo venho acompanhando o blog (principalmente depois de uma decepção)e gostaria de parabenizá-los pela iniciativa.

Enfim, minha história começa em 2008 quando conheci quem pensava ser o amor da minha vida. Namoramos por 2 anos, ambos morávamos onde fazíamos faculdade. Acontece que sou mais velha e me formei antes. Como recém formada, e desesperada em busca do primeiro emprego, veio a calhar que consegui um trabalho em outro estado. Passado um tempo, ele veio com uma conversa de que estava complicado, que nos víamos pouco, que me amava muita mas que estava sofrendo com a distância, enfim, que queria terminar.

É lógico que eu me desesperei, afinal era extremamente apaixonada por ele e estava disposta a tudo, já que o fato dele estar cursando a graduação o impedia de mudar. Tentei arrumar alguma coisa mais próximo, mas não mandamos no mercado, né? Dessa primeira vez que terminamos, logo reatamos, mais por tentativas minhas, porém, passado pouco tempo, em uma festa ele me traiu (estava bêbado, apesar de eu não aceitar tal argumento como desculpas). Chorei muito, doeu muito, mais pela decepção do que pela traição propriamente dita. Terminamos mas continuamos a nos falar, e nesse tempo houve até mesmo um encontro, com presença de família e tudo.

Entretanto, em um belo dia de primavera, quando o procurei, ele me disse que estava namorando. Aí sim que meu mundo desabou por completo. Foi quando ele me disse que resolver dar seguimento a vida. O que me deixou mais inconformada e decepcionada, foi que um mês antes, em um dos nossos encontros ele me fez juras de amor e dizia que era só esperar essa fase ruim passar que voltaríaos a ser como antes. Passados 7 meses, ele ainda namora a mesma garota ( que cursa a mesma faculdade, estando ela no início do curso, portanto bem novinha) e eu já tentei de tudo pra esquecer essa pessoa, mas não consigo. Não consigo ter ódio pela traição, o que me deixa muitas vezes frustrada.

Sinto apenas uma enorme decepção, por tudo que ele me fez e pra piorar uma saudade tremenda do nosso namoro, que antes desse turbilhão de acontecimentos era perfeito. Comparações são inevitáveis, o que dificulta um novo relacionamento (apesar de que tem me aparecido não compensa investimento). Quando nos encontramos, muitos falam pra eu virar a cara, não cumprimentar na rua, mas não consigo. Mesmo depois de tudo sou agradável nos e-mails, e nos “ois”. Ainda o amo, e ele sabe disso, e não sei como faço pra diminuir esse sofrimento. Abraços…

M.


Olá M.,

Sabe que no último sábado eu fui a um casamento. Se tratava do casamento de um ex-aluno meu e, com muita felicidade, cheguei a ele e disse que eu perdi um aluno porque ele havia se formado, mas ganhei um verdadeiro amigo, algo assim, sem preço. Tudo estava muito lindo. O salão, o clima, as pessoas. Havia uma beleza no ar, uma beleza que não se desenha. Aquela beleza da comunhão de emoções em torno daqueles que ali estariam para oficializar uma união, mas prefiro usar a palavra celebrar, compartilhar ao invés de “oficializar”.

Havia boa música, pessoas sorrindo, crianças brincando, romantismo e uma alegria sem precedentes estampada no rosto e na aura dos protagonistas dessa história. História, aliás, que havia sido construída há cerca de 9 anos. Pois é, eles estavam juntos há 9 anos. Acho que hoje ele tem 29 e ela deve ter a mesma idade praticamente.

O fato é que me alegra poder ver que existem pessoas que permitem apaixonar-se. Permitir-se a isso é abrir uma porta pra si mesmo diante da gélida solidão que pode bater à nossa porta. Estar só é bom, nos amadurece, nos faz enfrentar medos ou ao menos pensar neles,nos faz entrar em contato com coisas que não gostamos na gente. Agora sentir-se só e estar sempre só não sei. Tenho cá minhas dúvidas sobre o quanto que isso nos é saudável.

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O casal em questão eu conheço há alguns anos. E percebe-se que se gostam porque acima de tudo há respeito entre as partes. Houve sim momentos difíceis, mas houve conversa, silêncio, esperança, vontade de estar junto, mas isso só funcionou mesmo porque existiu uma sintonia de ambas as partes.

Eu nem sei se conseguirei lhe ajudar, mas daqui pude sentir um pouco dessa sua dor. E que dor hein. Digo isso porque fui a esse casamento sozinho e não conhecia ninguém a não ser o noivo. Mas isso não foi problema por muito tempo porque logo me enturmei. O fato é que ao presenciar a beleza da maneira como tudo estava acontecendo, isso me trouxe coisas boas e também coisas não tão boas assim, me permiti lavar os olhos de alegria, e de tristeza.

Pensei em como o término de um relacionamento é solitário. Uma decisão que ou fazemos ou temos que aceitar caso realmente não dê certo. Não creio que alguém já começa um relacionamento querendo que dê errado e é nítido que alguns estão fadado à separação antes mesmo de começar, mas quando estamos juntos naturalmente queremos que dê certo, que a vida enriqueça (penso assim pelo menos) para ambos.

Que o fato de estar com a outra pessoa seja algo que proporcione prazer e se de repente a dor falar mais alto por algum motivo, poderemos dividi-la sem julgamentos ou acusações porque teremos ali alguém que nos ouve e nos acolhe até esgotarmos o choro e a dor passar.

Quando eu tinha 15 anos ficava me indagando como pode duas pessoas que se gostam não ficarem mais juntos? Confesso que até hoje a resposta pra isso ainda oscila bastante, mas o eixo principal talvez esteja embasado no que cada um quer pra si da vida e que tipo de valores possuem, mas poucos sabem definir isso com clareza. Uns falam dinheiro, carro, casa, outros falam família mas sem saberem exatamente o que isso significa para si, acham que é só morar sob o mesmo teto e ponto, outros já não querem relacionamentos porque dizem que todo mundo vive uma ilusão, mentindo pra si mesmo e que as pessoas não amam, apenas se acostumam umas com as outras, enfim, é uma confusão de definições e explicações.

Talvez nessa tempestuosa mistura de coisas vocês dois tenham se desencontrado. É triste? Muito! Doloroso? Demais!!! Lembro-me do meu ultimo relacionamento, terminar foi muito triste pelo investimento emocional que havia feito. Havia mudado de vida e praticamente de cidade, ficava de quatro a cinco dias em uma e três dias em outra. Rodava semanalmente 366 km. Tudo para que conseguisse ficar mais perto e não me queixava porque afinal de contas foi uma escolha minha. Junto à isso houve um acumulo de funções, além de trabalhar eu tinha que ir levando o mestrado na USP, ser o namorado (praticamente namorido), ser filho, amigo, irmão e no relacionamento tinha que ser “o cara”, ou seja, estar o máximo possível presente, ser bom de cama (porque até ouvi em certo dia de estresse que se não fosse um outro poderia ser), organizado, responsável, com contas em dia, nome limpo no SERASA e por ai vai. E nas horas “vagas” eu arriscava de “pai” porque ela tem três filhos pequenos. Então, quando estava por lá buscava na escola, dava de comer, brincava, levava pra passear, dava banho, contava história pra dormir, mas tudo isso com prazer, com muito prazer e bom humor porque afinal de contas me entreguei e achava ser a pessoa da minha vida, havia um propósito maior.

Acontece que a tal da sintonia não estava acontecendo e com isso surgiram mais cobranças e das cobranças ofensas como se nada estivesse sendo feito, e quando chegou a esse ponto eu fui literalmente apagando porque isso não condizia com meu modo de sentir as coisas e não era pretensão minha ser um Super-Homem ao ponto de dar conta de tudo, queria apenas construir, mas junto, no plural entende?. Aliás, o sentir acabou não sendo mais o que movia, o que impulsionava. Você disse muito bem. “eu estava disposta a tudo”, pois é…eu também, mas acabou sendo uma busca solitária e nos restou, dentre uma tristeza, a dor porque me questionava: “O que mais tenho que fazer?”

No sábado, durante o casamento, fiquei triste por pensar em toda a situação, percebe que não foi com relação à pessoa em específico, mas com relação ao contexto de sonhar, crer, querer, dedicar, não ceder em muitos momentos, mas acabar tendo a consciência que só pude ir até onde o outro me permitisse. Há um limite para todos. E na dor me solidarizo com você. Houve a sua busca, o seu querer, mas ele não deu conta, ao menos foi sincero.

Se sentir que deve chorar, chore! Respire fundo, porque sendo honesta no que sente você foi até onde era possível pra você. Até onde cabia seu livre arbítrio. Não há culpado ok? Não cabe julgarmos absolutamente nada. Houve o desencontro e por este, a possibilidade de agora em diante, vislumbrarmos outro caminho. E que seja feliz.

Até mais!!

Márcio Oliveira

[email protected]
Meu Blog: As Palavras

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Psicólogo, consultor de relacionamentos e quase Mestre pela USP-SP. Meio NERD, completo romântico, mas não abre mão de um intenso beijo na boca e um alinhamento entre coração, corpo e mente.

14 comentários No Coisas boas…e não tão boas assim.

  • este poste foi mesmo uma lição de que a dor vem e parece que vai ficar para sempre mas quando nos demos conta e apenas uma lembrança e algo que é lembrança é passado……………………………….. amei de verdade este poste não so pela historia da nossa amiga mas como a lição que o marcio deu você respondeu com nota cem pois não ficaste pelo conselho mas deste uma lição de vida.

  • A não ser que uma relação tenha sido muito traumatizante [tenho uma tia que tá feliz da vida depois que o marido dela bateu as botas! – detalhe: 33 anos de sofrimento, ops, digo, casamento] terminar uma relação é triste. Mas como disse a música: amores vem e vão, como aves de verão, e é isso aí.

    Lindo o texto, Márcio. É incrível a sua capacidade de expressar com palavras o que você sente e de forma tãoooooo profunda, que quem lê se emociona, arrepia… e tudo mais.

    Mais sorte da próxima vez [para todos nós!]
    =)

  • Lindo

    ps – pq eu estou sem palavras pra esse post.

  • Márcio, me debulhei em lágrimas! Quanto sentimento contido no texto! Parabéns pelas palavras, pela grande ajuda que destes a pessoa que contou sua história e meus parabéns por se abrir conosco, por partilhar um pouco de sua vida, sua história.
    Eu me solidarizo com vocês dois! Um grande beijo!

  • Obrigado a todas pelo carinho nas palavras e elogios ao texto 😉

  • Marcio..
    A vida é um aprendizado, cabe a nós tirarmos proveito até das coisas ruins pelas quais passamos e esquecer o passado…Se nao o amadurecimento não vem.
    Eu ”entendi tudo”, respirei e ponderei…Afinal é um passado.. que foi triste e tal. Tenho uma carga nos ombros tmb, mas procuro deixar pra trás. Porque apenas quando não nos importamos mais..que vira um ‘ tanto fez como tanto faz’ que tocamos a vida. Apenas quando o ”saco”(..) perturba mesmo, aí nao tem como ..é um saco! tirando isso.. >>>>>> ‘VEM-MI-MIM-VIDA-NOVA..!!!!!’
    Quando há um encontro entre duas pessoas…Que entram numa sintonia incrível, a ponto de escreverem coisas iguais juntos, trocar mensagens ao mesmo tempo, até saber que o outro escreveria ao ver algo antes mesmo de receber uma mensagem(medo), que pensam na soma e que têm inúmeras afinidades, afeto, carinho, trocas, entrega, um entrosamento ao qual olhamos e nos parece que ja se conheciam há tempos
    Isso nao se desperdiça, não podemos deixar de lado como algo corriqueiro, isso ”nao pode”, é tão difícil ”encontrarmos” pessoas assim, que se encaixam tão bem quanto dormir de conchinha depois daquele amor gostoso.
    Quando isso acontece.. vale a pena acreditar que é possível, mesmo que até pareça um DEJAVU, com algumas nuances que remetem ao passado, como uma distância, por ex.. Mas as pessoas são diferentes em tudo TUDO.. não existe ser humano ‘duplicado’ na essência, então os ‘medos’ das entregas e tudo mais é compreensível e aceitável.
    Quem não os têm? Deixemos de lado e entremos na roda da Vida, que gira sempre e nos tras coisas assim como os bons ventos, inclusive NAVEGANDO, ou voando(; )…ventos dos Mares sem fim. Como sempre…não esqueça….”Foi, desde sempre, o Mar! 🙂
    Um viva aos encontros, aos Olhos no Olhos e mãos Juntas. Dias incríveis sempre.Não precisa ser somente dias, podendo ser transformando talvez em Tempos incríveis de entrega e Felicidade.
    ‘…como no voo dos pássaros, o sopro do vento, as cores do crepúsculo.Esse é um rito dos adultos,porque somente os adultos desejam que o futuro seja igual ao presente.’ (trecho Navegando,Rubem Alves,pg. 47,Por um casamento) escolhi este trecho, foi lido outro dia numa sintonia incrível,de dias Incríveis:)
    bjus!

  • Um dos textos mais lindos que já li! =}

  • Lindo texto Márcio!

  • Nossa Márcio..excelente post!!!
    Vc se supera a cada artigo, quanta sensibilidade!

  • Nossa… acho que nunca li um texto que expressasse tanta sinceridade quanto este… Eu diria que fiquei com vontade de te “colocar no colo” Márcio… rsrs…
    (P.S.: Adorei essa sua sua foto caminhando…)

    Destaco dois pontos:

    1º) “…daqueles que ali estariam para oficializar uma união, mas prefiro usar a palavra celebrar, compartilhar ao invés de “oficializar”…” Namorar, noivar, casar… tudo isso é o que afinal? Se não COMPARTILHAR… (?) Ser cúmplice… dividir as alegrias e dar apoio nas adversidades…

    2º) “…não era pretensão minha ser um Super-Homem ao ponto de dar conta de tudo, queria apenas construir, mas junto, no plural entende?…” Não amamos sozinhos, amamos em parceria… e pra isso o casal precisa estar em sintonia… em momentos de vida parecidos…

    Por isso M., sei que o seu coração tá machucado, dilacerado… mas desse mal, meu bem, ninguém escapa… porque como diria Guimarães Rosa: “É preciso sofrer depois de ter sofrido, e amar, e mais amar, depois de ter amado…”
    Chore o quanto você precisar chorar, desabafe com o seu travesseiro (fiz mto isso tb) mas depois… Olhe o mundo! Há tantas coisas boas… tantos amigos, tantos lugares, tantas pessoas indo e vindo… e quem sabe logo logo, quando vc se permitir… um novo amor aparece…
    Sofrer por amor dói… Dói e não é pouco! Mas passa… e o que fica é o aprendizado… o amadurecimento…

  • Uauu que texto hein ..Bom realmente sentimos que o teto vai desabar e que o mundo acabou,porque ficamos sem chão,ainda mais pela decepção de uma pessoa que nos doamos integralmente.Agora o Momento de ser forte,seguir com a vida e tentar ocupar o máximo de seu tempo com outras coisas,não é fácil,mas temos que seguir em frente sempre..
    Márcio você é um fofo!rs
    bjos M

  • Apenas uma coisa a dizer p vc Marcio: UAU! Foi lindo vc expor um pouquinho da sua vida, de forma tão sensivel… Ainda existem pessoas que valem a pena!

  • É triste o fim de um relacionamente…principalmente quando uma das partes ainda nutre o sentimento pelo outra pessoa…sofrimento vai existir…a dor talvez demore a passar…mas tudo passa..sendo que nunca devemos deixar de sonhar, acreditar e crer que somos capazes de construir uma nova istória e que o AMOR é o sentimento mais lindo que podemos sentir pelas pessoas e que vale a pena persistir e confiar, pois tudo tem seu momento e para cicatrizar as feridas é preciso tempo e fé que um novo amor pode surgir…

    Bjãooo

  • Poxa…”Acontece que a tal da sintonia não estava acontecendo e com isso surgiram mais cobranças e das cobranças ofensas como se nada estivesse sendo feito, e quando chegou a esse ponto eu fui literalmente apagando”… essa foi uma das melhores definições que já li falando do momento quando percebemos que está chegando o fim, os olhos apagam, a pele apaga, os cabelos apagam, enfim a gente fica sem aquela luz que chamamos de amor. E depois acender tudo de novo leva um tempão né, as vezes a luz nem tem o mesmo brilho, a mesma intensidade, mas sabemos que precisamos voltar a brilhar, voltar a acender essa luz de algum modo em algum tempo.
    M…você pode estar se sentindo assim, mas o bom é que nada dura eternamente, os momentos passam, os amores vão e vem, e devemos continuar a partir do ponto em que estamos pois afinal de contas a vida está ai, dificil é, complicado também, mas como o Marcio disse, seja feliz é o que eu também desejo a você
    Texto perfeito, de uma sensibilidade… né amigo!!!
    Muda nunca não viu!!!
    beijuss da sara 😉

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