O assunto de hoje é, antes de tudo, tratado com prazer e quando se fala em prazer, lembra-se de orgasmo. Você sabe o que é um orgasmo? Sabe como ele se processa? Já teve um? Por que a mulher pode ter vários e os homens, normalmente, estão restritos a um de cada vez?
Divirtam-se e com sorte, talvez consiga um hoje…
Já imaginou? Você, doutora em orgasmos…
Boa sorte.
Descobrindo a anatomia do orgasmo – 6/12/2004
MARGIT PRATSCHKO e WERNER SIEFER/FOCUS,
LUCIA SPERBER (tradução) e CRISTIAN
Outros Jornais
ÉPOCA ED. Nº 342 = 06/12/04 = MATÉRIA DE CAPA
Pesquisas pioneiras revelam o que acontece com homens e mulheres no auge do prazer e acenam para a possibilidade de uma pílula do êxtase
Muita gente adoraria servir de cobaia para algumas pesquisas que estão dando o que falar na Europa: o mapeamento da cascata de sensações verificadas no corpo e na cabeça no ápice do prazer. O método de investigação não poderia ser mais pragmático. No laboratório do holandês Gert Holstege, da Universidade de Groningen, o casal se posiciona sob um relógio digital e o cientista dá a partida: ”Por favor, peço que cheguem ao orgasmo em quatro minutos”. Enquanto a mulher começa a acariciar o parceiro, o cérebro dele é vasculhado por um aparelho de tomografia. A máquina registra as regiões ativadas até que ele atinja o clímax. Em seguida, há uma inversão de funções: o homem estimula sua parceira. Quando a mulher se aproxima do orgasmo, o coração bate mais forte, a pressão arterial sobe, os músculos da bacia e das nádegas se contraem.
O scanner investiga os mínimos detalhes do córtex, a fim de desvendar o segredo que instiga os seres humanos desde que existe o amor: o que acontece quando experimentamos o ápice das sensações? A parafernália de alta tecnologia, que pesa toneladas e custa 3 milhões de euros, revela o que ocorre na cabeça, nos hormônios e em várias partes do organismo durante o ato sexual.
”O cientista que se ocupa da anatomia do orgasmo faz algo de bom para o ser humano”, justifica Holstege. Palmas para o professor. Por preconceito ou arrogância, o ponto culminante da paixão e do prazer continua a ser território quase inexplorado para os pesquisadores. Tanto que as inovadoras imagens feitas por Holstege não foram aceitas pelas prestigiadas revistas científicas americanas Nature e Science, sob a alegação de que o material não interessaria aos leitores.
A análise do que acontece no cérebro e no corpo durante o sexo pode
levar ao surgimento de uma pílula do orgasmo.
Pela primeira vez, o trabalho revela a assinatura neurológica do êxtase. O computador funciona também como um perfeito detector de mentiras. No orgasmo fingido, as áreas do desejo no cérebro das mulheres permanecem em calma, enquanto os centros de movimento apresentam maior atividade. Os cientistas também conseguiram esclarecer por que as pessoas mergulham em um vale de indolência depois de surfar sobre as ondas do desejo. ”Após o sexo, todos os seres vivos ficam tristes, com exceção do galo e da mulher”, já observava o médico Galeno, no século II a.C.
A responsável por isso parece ser a prolactina. O hormônio que dispara a produção de leite depois do parto também age como freio do desejo logo após o orgasmo. Será que uma pílula que inibisse a ação da prolactina poderia ajudar os homens a tornar realidade o sonho de ter orgasmos sucessivos?
”O orgasmo é uma coisa do dia-a-dia, assim como o ato de mastigar. Infelizmente, conhecemos mais sobre a fisiologia da mastigação que a respeito dos mecanismos do prazer”, reconhece o neurobiólogo James Pfaus, da Universidade de Montreal. Do primeiro olhar mais insinuante até a transmissão dos espermatozóides, a natureza compôs uma coreografia para o encontro entre o homem e a mulher. A pressão arterial e a pulsação sobem, o pênis se intumesce, a vagina fica úmida, os pequenos lábios da vulva e o clitóris se expandem.
Quando a dança dos corpos chega perto do gran finale, geralmente o homem é o primeiro a viver seu prazer máximo. A vesícula seminal e a próstata se estreitam ritmicamente. Na hora H, até 240 milhões de espermatozóides são lançados pela uretra com uma velocidade entre 14 e 18 quilômetros por hora. Se a parceira também chega ao clímax nesse mesmo instante – algo que todos desejam, mas não necessariamente conseguem -, a vagina forma uma ”guarnição para o clímax”. Assim como o útero, ela se contrai de cinco até 12 vezes.
Apesar de ter criado esse balé cuidadoso, a natureza não é mestre em sincronização. Segundo vários biólogos, isso explica por que muitos homens chegam esgotados a sua meta enquanto as mulheres ainda estão no meio do caminho. A pressa masculina seria necessidade da reprodução. Segundo essa visão, o orgasmo funcionaria como um prêmio da natureza pelo êxito atingido, para gratificar os praticantes por passarem adiante sua carga genética e garantir a perpetuação da espécie. O risco de fracasso biológico seria alto demais caso as mulheres fossem coroadas em primeiro lugar com os louros do prazer. ”Talvez muitas parceiras simplesmente virassem de lado, satisfeitas, antes que o homem pudesse doar seus espermatozóides”, pressupõe Rolf Degen, autor do livro Do Ápice das Sensações.
Em cada um dos sexos, o prazer revela-se de forma diferente. Isso foi constatado de forma inquestionável pelos estudos ainda não publicados de Michael Forsting e Elke Gizewski, do Hospital das Clínicas de Essen, na Alemanha. Doze homens e 12 mulheres permitiram que seu cérebro fosse vasculhado por equipamentos de ressonância magnética enquanto viam alternadamente filmes eróticos e inocentes trabalhos de bricolagem.
A excitação provocada pelas imagens de sexo ativou regiões distintas. Nos homens, brilham áreas cerebrais mais primitivas, existentes também em galos e crocodilos. Nas mulheres, são ativados setores na parte mais nobre do cérebro, responsável pelo pensamento. Isso significa que durante o sexo a parceira age de forma mais racional, enquanto eles só pensam naquilo. ”Os homens seguem mais seu impulso de acasalamento; para as mulheres, a sensualidade é algo mais importante”, explica Forsting.
A antropóloga americana Helen Fisher, autora do recém-lançado Why We Love, também esclarece o significado biológico do abismo entre homens e mulheres. ”Quando nossos antepassados da Idade da Pedra faziam sexo, era importante que ao menos um dos parceiros não se desligasse por completo do mundo exterior”, explica. Coube à mulher mais essa incumbência. Durante o sexo selvagem ela permanecia alerta para notar a proximidade de um leão ou o sumiço de uma criança.
Qual a razão biológica do orgasmo feminino? Afinal, para garantir a reprodução, bastaria que a fêmea aceitasse fazer sexo. A antropóloga acredita que uma recompensa, sob a forma do prazer, aumenta a disposição para a repetição do coito e, dessa forma, a chance de gerar descendentes. Além disso, os fisiologistas descobriram que as contrações do colo do útero ocorridas durante o orgasmo transportam os espermatozóides para mais perto dos óvulos. Isso eleva a probabilidade de uma gravidez.
Mas a natureza fez com que o orgasmo feminino não tivesse de acontecer forçosamente durante a penetração. Caso contrário, o clitóris estaria dentro da vagina. O único órgão do corpo humano que não serve para mais nada além de proporcionar prazer é maior e tem mais ramificações nervosas do que se supunha. Possui 8 mil terminais nervosos – número comparável ao que existe no pênis.
Uma pesquisa realizada pelo Hospital Charité, em Berlim, com 575 participantes entre 18 e 71 anos, revelou que a média de tempo até que seja atingido o orgasmo é de oito minutos (diferentemente do que consta no best-seller de Paulo Coelho Onze Minutos). O trabalho também elucidou preferências. ”As mulheres vivem o orgasmo clitoriano de forma mais intensa, mas ficam sexualmente mais satisfeitas quando também atingem o clímax através da penetração”, explica a psicóloga Sabine Grüsser-Sinopoli.
Esse prazer anda em falta. Quase metade das mulheres que participaram da pesquisa raramente ou nunca consegue atingir seu ”paraíso sexual” quando está com seu parceiro. Homens feridos em sua reputação costumam alegar que o orgasmo feminino é algo mais complicado e difícil de ser alcançado. A idéia é rejeitada pela psicóloga Margret Hauch, do Hospital das Clínicas de Hamburgo-Eppendorf. Segundo uma pesquisa que ela coordenou, com 776 voluntárias, quando a mulher se masturba, quase sempre atinge o orgasmo. ”Muitas mulheres dizem que o sexo lhes dá prazer, mas que seus parceiros ficam muito tristes porque elas não chegam sempre ao orgasmo”, conta Margret. Mas isso nem sempre desencadeia um cavalo-de-batalha. Quase metade das mulheres que admitem não chegar ao orgasmo no ato sexual afirma estar ”sexualmente satisfeita”. Nessa amostra, 76% chegaram a dizer que tinham ficado felizes.
Quando é forte a pressão pelo gran finale, muitas parceiras partem para a encenação. Segundo o estudo do Charité, apenas uma em cada dez mulheres nunca fingiu um orgasmo. A razão da mentira: 41% delas querem agradar ao parceiro. Por outro lado, uma em cada quatro adota o expediente para abreviar a relação.
É verdade que nem sempre o clímax se assemelha ao estrondo de um trovão acompanhado de uma chuva de estrelas. ”O orgasmo não está atrelado a órgãos específicos e muito menos aos genitais”, atesta o cientista Volker Sigusch. O curioso é que, além dos órgãos sexuais primários, quase todas as outras partes do corpo podem suscitar o prazer.
Para algumas pessoas é suficiente estimular os lóbulos das orelhas ou ter os cabelos massageados. Alguns estudos atestam que as mulheres sentem orgasmo apenas com estimulação nos seios (30%) e na boca (20%). Ambos os sexos (25% das mulheres e 21% dos homens) chegaram, pelo menos uma vez, ao sétimo céu do prazer sem nenhum contato corporal. Ou seja, apenas por meio da fantasia. ”Prazer e excitação não ocorrem na bacia, e sim entre as duas orelhas”, conclui o professor de radiologia Michael Forsting, do Hospital das Clínicas de Essen.
O cérebro é o órgão de prazer mais poderoso. Isso é percebido por qualquer um que, ao menos uma vez na vida, já ficou com o coração saltando pela boca só de pensar na pessoa amada. Conhecer as estruturas cerebrais que participam disso e elucidar suas funções é fundamental para o desenvolvimento de terapias e medicamentos para melhorar a qualidade da vida sexual e tratar transtornos psiquiátricos ligados ao sexo, como a pedofilia.
Nesse contexto, as pesquisas européias representam a luz contra as trevas. ”Estudos sobre orgasmo financiados com dinheiro público, como os nossos, seriam inimagináveis nos Estados Unidos, onde a influência dos conservadores é fortíssima”, diz Michael Forsting.
PUDOR – Entre as brasileiras, 31% nunca se masturbaram na vida.
Entre os homens, o índice cai para 3%
O direito ao sexo prazeroso deveria ser encarado como uma questão de saúde pública, passível de financiamento para pesquisas e desenvolvimento de novas terapias. Já se sabe, por exemplo, que a substância cabergolina – usada no tratamento do mal de Parkinson ou para interromper a produção de leite – aumenta o desejo e propicia um orgasmo mais intenso. Ao mesmo tempo, um controverso adesivo de testosterona que promete aumentar o apetite sexual das mulheres está sendo analisado pela FDA. Os especialistas alertam que a administração prolongada do hormônio pode ser prejudicial ao organismo. De qualquer maneira, as pesquisas já comprovaram que sexo de qualidade faz bem ao coração, tonifica os músculos, melhora o sistema imunológico – e, sem dúvida, o humor de qualquer um.
O ÁPICE DAS SENSAÇÕES | |||
Idade | Sexo | Orgasmo durante a última masturbação – em % | Orgasmo na última relação com parceiro – em % |
6O anos | M | 92 | 97 |
F | 85 | 65 | |
45 anos | M | 94 | 94 |
F | 93 | 74 | |
3O anos | M | 92 | 93 |
F | 87 | 53 |
O que acontece com o corpo na hora do orgasmo?
EXCITAÇÃO
Cérebro
Áreas responsáveis por sensações de felicidade e outras emoções são ativadas Setores responsáveis pela memória, atenção e pelo pensamento lógico são reprimidos
♂♀ – O poder da paixão.
Apenas o fato de olhar para o parceiro excita no cérebro de homens e mulheres centros nervosos que também são ativados pela satisfação provocada por drogas, como a cocaína. Setores responsáveis pelo raciocínio crítico ou pelo medo são desativados
Hormônios
♂MASC – O motor da testosterona
O desejo masculino é fortemente influenciado pelo nível de testosterona. Mas a alta concentração de testosterona nem sempre significa libido elevada. A relação exata que existe entre esses dois fatores ainda é incerta
♀FEM – Pulsão sexual e desejo
O hormônio feminino estrógeno não exerce grande influência sobre o desejo da mulher. Enquanto isso, ter uma boa carga de testosterona circulando no corpo feminino implica intensa atividade sexual
Corpo
MASC – Calor no abdome, o pênis aumenta e fica ereto. A pressão arterial, a pulsação e a freqüência respiratória são elevadas e a atenção diminui
♀FEM – A pulsação e a pressão arterial sobem. A vagina fica úmida e se amplia, assim como o clitóris. Os mamilos crescem até 1 centímetro
FASE PLATÔ
Cérebro
Nos homens são ativados grandes centros nervosos na área do sistema límbico Quando estimuladas, as mulheres reagem de forma muito menos emotiva.
MASC – Só pensam naquilo
Nos homens são acionadas regiões primitivas do cérebro. Eles agem, durante o sexo, de maneira extremamente impulsiva.
♀FEM – Com os pés no chão
Nas mulheres, as emoções não entram em ação. É ativada principalmente a área responsável pela razão.
Hormônios
Homens e mulheres – Apresentam as mesmas mudanças hormonais. Aumenta fortemente a concentração de adrenalina e noradrenalina
O mistério da oxitocina – O efeito desse hormônio é polêmico. Em alguns homens, os pesquisadores observaram uma clara elevação junto com o orgasmo – entre 20% e 360%. Mas a ação da substância no organismo não está clara. A suposição do médico Till Krüger: a oxitocina estaria envolvida em contrações de partes dos órgãos reprodutivos femininos e masculinos durante o orgasmo
Corpo
MASC – Flush sexual
O rosto, o peito, a barriga e os ombros ficam avermelhados. A pressão arterial, a pulsação e a freqüência respiratória continuam a subir. Há um aumento da tensão muscular
FEM – Ocorre um evidente inchaço nos seios e aumenta a circulação sanguínea nas coxas, nádegas e costas. Ocorre superventilação. A freqüência cardíaca vai de 110 a 180 batidas por minuto
ORGASMO
Cérebro
CLÍMAX – Os campos ativados comandam reflexos essenciais, como a ejaculação
MASC – Assinatura do êxtase
Grande atividade na área relacionada ao sistema de recompensa. Ocorre um bloqueio na região responsável pelo medo, a amígdala
FEM – Prazer verdadeiro
Atividade cerebral semelhante à dos homens. O sistema de alerta trabalha mais
Orgasmo fingido
Em comparação ao verdadeiro, os centros motores do cérebro são mais ativados
Hormônios
MASC/FEM – Imediatamente depois do orgasmo, há uma grande elevação do nível do hormônio de produção de leite, a prolactina, tanto nos homens como nas mulheres. Isso tem o efeito de um freio sexual
Corpo
MASC –
A atenção fica extremamente reduzida e a ereção mais vigorosa. O escroto aumenta. A vesícula seminal, os dutos e a próstata contraem-se ritmicamente. Ocorre a ejaculação do esperma
FEM
Guarnição orgástica
O terço dianteiro da vagina se afunila e se contrai de cinco até 15 vezes. Ocorrem também inúmeras contrações em regiões como nádegas, mãos, pés e rosto
DISTENÇÃO
Cérebro
MASC/FEM – descanso em vez de desejo
Depois do clímax, o cérebro relaxa até o adormecimento
Hormônios
MASC/FEM
O nível de prolactina permanece elevado até uma hora depois do orgasmo. Nos homens, o hormônio aniquila o desejo e desencadeia a preguiça. Por que as mulheres conseguem ter outros orgasmos pouco tempo depois ainda é um mistério
O esperma parece ter um efeito estimulador. Ele contém vários hormônios: testosterona, estrógeno, prostaglandina e prolactina. Essas substâncias podem passar pela vagina e outras mucosas e cair na circulação sanguínea
Corpo
MASC – A ereção do pênis diminui instantaneamente, a respiração e a pulsação se normalizam. Dependendo da idade, o homem perde a capacidade de ficar excitado durante um certo período
FEM – Depois do orgasmo, a mulher volta a estar sexualmente excitável. Se ela não reiniciar o sexo, a respiração se normaliza e o inchaço da vagina e dos lábios da vulva retrocede
5 comentários No Descobrindo a Anatomia do Orgasmo
Obrigado a todos.
Desejo que seus orgasmos futuros sejam mais prazerosos e múltiplos.
Não deixe para amanhã o orgasmo que vc pode ter daqui a oito minutos…
Sorte e felicidade para todos.
Um beijão
Alex
Uma verdadeira aula de orgasmo. Parabéns, Alex!
ri de várias partes…
imaginei uma mulher virando pro lado e dormindo…
ou ainda, achei bem bizarro transar com um médico e aparelhos de tomografia por perto.
quem será que conseguiu abstrair assim…
muito bom, Alex.
Supeeer esclarecedor o post, além de super interessante tb!! Eu não sabia de várias coisas e me foi por fim esclarecida uma dúvida q eu tinha ha mtooo tmp!
Se na hora realmente, os homens ficavam tão fortemente na base do instinto ou era só conversa deles rs. Agora sei q realmente é vdd…
Incriveeel, ameeeei! Obgddd Alex!!!