Desde que me lembro por gente, tive inúmeros amigos imaginários: amigos para brincar quando não tinha companhia, brigar quando eu estava irada, ou somente estar ouvindo meu choro quando eu estava insuportavelmente triste. Também tive a Jurema, uma ursinha fofa que fui obrigada a dar para minha priminha que até ficou doente por ela, e uma cobertinha que ‘pinicava’ a lã, e que fui largar somente quando casei.
Engraçado… até lhes contar, nunca havia percebido o quanto me apeguei simbolicamente a estes objetos.
E quantos não tiveram algo de valor? Um paninho, um carrinho, uma chupeta?
A questão nem é julgar o quanto estamos crescidinhos para isso, até mesmo porque, se a vida nos obrigou a crescer, podemos até abandonar a chupeta ou o “cheirinho”, mas transferimos a carência para outro objeto, brinquedos de adultos, ou permitido somente para adultos.
Queremos tanto ser formais e mostrar para todos que já crescemos, mas bem lá dentro… ainda nos sentimos aquela criança “desamparada”. Sim, porque nossos pais podem ter dado o melhor deles, mas nunca é perfeito, nunca é 100%, sempre fica uma lacuna porque não existe perfeição… e esta lacuna nos marca para o resto da vida.
Mas não estou aqui para questionar se erraram mais ou acertaram menos, até mesmo porque ninguém quer errar, mas para refletirmos o quanto somos carentes.
Eu creio no dito de um autor desconhecido, que ‘a gente nasce sozinho, cresce sozinho e morre sozinho’. E esta é a mais pura verdade!
Podemos ter – ou não – pais para nos amparar e orientar no decorrer do nosso desenvolvimento, mas eles não duram toda a vida; só que o enfrentamento, este é entre nós e a vida.
Cada um, dentro da sua individualidade, vive a mesma experiência de jeitos diferentes: uns sofrem mais que outros ao experienciar determinadas situações, e se hoje não se sentem só, um dia, em algum momento se sentiram.
Ouvi de uma amiga evangélica: “Eu não me sinto só, porque quem tem Deus nunca está sozinho”.
Ai eu penso : “Então por que você veio a ter depressão minha cara? Onde estava Deus que lhe deixou sozinha com esse bicho-papão”?
Não estou julgando pessoas nem crenças, mas se esta pessoa, como muitas outras, chegam a desenvolver este quadro, foi porque se pegou sozinho, e com muito medo, só que nem sempre estar sozinho significa viver na solidão!
Eu já contei aqui em algum momento que foi muito difícil passar por momentos de mudanças, e que da última perda da minha “identidade”, fui encontrar-me no yoga, mas mesmo sabendo que tenho este lugar, o universo harmônico dentro do meu ser, e que posso estar nele e correr para ele quando bem entender, ainda assim tenho meus desequilíbrios, afinal, é sangue que correm pelas minhas veias!
É quando percebo que ainda tenho amigos imaginários: eu dirijo monologando comigo, finjo ter alguém ao lado, onde eu mesma sou a segunda pessoa do singular, que me ouve e me responde sua opinião (até brinco com este ser que se eu instalasse uma câmera no meu retrovisor para gravar minhas divagações e publicá-las num videoblog , eu/nós divertiria/divertiríamos muita gente!hehe).
Também me reconheço uma criança em corpo de adulto: adoro levar os filhos ao cinema para juntos curtimos desenhos, ou brincar de amarelinha, ou ainda subir em árvores… Claro que eles amam, mas será que o faço para agradá-los ou para agradar minha criança interna?
Como na infância fui uma criança-cientista (daquelas destruidoras que quebram o brinquedo só para ver o que acontece), nenhum brinquedo de recordação daquela época me sobrou, mas hoje eu tenho sobre minha cama a boneca Lola, do Charlie & Lola (que foi presente da minha filha do meio, e a Lola foi sua primeira boneca), e no criado ao lado… um bullet!
Para as que nunca ouviram, bullet é um estimulador clitoriano, que funciona à pilhas, cuja velocidade controlamos, e como dizia um ex-namorado, “proporciona um gozo eletrecultado”! Apesar de um velho amigo de faculdade querer me convencer que eu criei uma dependência psicológica a este brinquedo (sempre tem alguém a dizer algo, como o povo fala demais!!!) eu tenho que reconhecer que não vivo sem ele, nem sem pilhas (no desespero, roubo as do controle do vídeo-game do filho e ainda tenho que dar uma de desentendida com ele)!
É claro que eu preferiria um “hombre”, mas se é o que tem para hoje!!!rs
E o que tem demais ter um brinquedo desses? Muitos homens são eternos beberrões, só trocam as mamadeiras por latinhas de cervejas; outros são fissurados em X-Box, ou em colecionar as mais diversas miniaturas… Então qual o problema da forma de relaxar se tocando?
Benditas carências…
Eu falo, o ser humano é carente, carente de amor, de contato humano, de atenção… uns mais, outros menos, mas todos somos… e daí?
Reconhecer já é um primeiro passo para aprendermos a conviver com essa situação “monstruosa”. A medida que aprendemos a nos silenciar, a alma ganha voz para nos contar sobre coisas que gosta. É quando nos surpreendemos gostando do novo.
Se o ser humano soubesse o quanto é gostosa essa descoberta, não teria tanto medo de ficar sozinho.
Mas como não sou paga para dar conselhos – e se os desse talvez fossem os piores, pois sou da opinião de que temos que dar a cara para apanhar para saber se de fato dói – fica somente a dica que ouvi ontem mesmo da minha instrutora durante a aula de hatha-yoga: “nada dura para sempre, tudo passa, então sinta”.
Se o que tem para hoje são apenas amigos imagináveis no lugar de risadas diversas, sinceras e gostosas a sua volta, monólogos, ou ainda, um bullet no lugar de um homem gostoso esquentando a sua cama, não se desespere não, apenas atente para absorver a lição que a vida quer lhe dar, afinal, “nada é para sempre”, e uma hora essa urucubaca passa!!!
2 comentários No Monólogos
😉
Tudo que disse e a mais pura verdade…
Adorei!!! Bjs