Essa vai ser uma daquelas conversas de mulher para mulher. Imagine a seguinte situação: Você durante anos investiu tudo o que tinha para construir a casa dos seus sonhos, tudo no devido lugar, pensado e desejado por você, arrumado com cuidado, flores coloridas e perfumadas, a harmonia de dias felizes, tudo certo e intocável. Até que… De repente um terrível e incontrolável terremoto balança o seu mundo tão perfeito, tirando tudo do lugar, você tenta recolocar as coisas onde estava antes, pensa que será possível reorganizar seus sonhos, mas quando olha ao redor vê apenas cacos e se quiser reconstruir pelo menos uma parcela de tudo que tinha terá que recolher a todos um por um.
Tarefa árdua essa de seguir recolhendo os cacos depois de um terremoto, geralmente a fazemos de forma solitária, muitas vezes pensamos em desistir, mas decidimos tirá-los do caminho antes que o costume de vê-los ali faça parte do cenário da nossa vida.
É dessa maneira que nos sentimos quando tudo que estava tão bom, quando o amor que parecia indissolúvel acaba. Quando onde havia dois corações que se completavam passa a existir um terceiro, mais novo, mais bonito, mais apaixonado. Um coração capaz de provocar um terremoto naquele relacionamento que você acreditava ser tão perfeito e inabalável.
No inicio ficamos tão cegas que culpamos o coração intruso, jogamos nele toda a carga amarga que produzimos, por causa dessa dor tão intensa, odiamos esse coração e se pudéssemos destruí-lo completamente faríamos sem remorsos acreditando que assim os cacos seriam esquecidos, mas não é bem assim que tudo ocorre.
Esse terceiro coração que não pode ser eximido de culpa não é o único culpado, sua aparição só foi possível porque algo silencioso, quase imperceptível já estava acontecendo na sua vida. Ele só aproveitou a brecha e se alojou no lugar que você deixou vago.
Nesse ponto você se pergunta: Então a culpa é minha?
Em parte sim.
Quando construímos nossos sonhos em terreno pouco firme corremos o risco de vê-los desmoronando. Temos tantos afazeres domésticos, tantas responsabilidades na criação de nossos filhos, uma jornada longa de trabalho, que por muitas vezes nos esquecemos e vivemos apenas para esse sonho pensando que ele só permanecerá intocado se mais nada for feito.
Quando digo que em partes temos culpa é porque não podemos negar que o nosso companheiro também falhou. Falhou nas mentiras que contou para encobrir seus erros, falhou quando só pensou nele e no seu próprio prazer, quando decidiu que outra pessoa deveria fazer parte de uma história que deveria ser apenas nossa, quando não teve coragem de assumir o fracasso conjugal, terminar de forma digna com o relacionamento, para só depois iniciar outro.
Mas por que geralmente os homens se comportam assim?
É mais simples do que parece ser. O homem foi gerado, criado e instruído por nós mulheres. Desde muito novinho acostumou-se com os cuidados das mulheres da casa, fora mimado, acariciado, alimentado por nós e quanto mais mulheres tinha a seu dispor mais feliz era sua vida.
Então ele pensa: Por que agora não posso ter tudo que sempre tive?
Uma única mulher dificilmente conseguirá suprir todas as necessidades de um homem. Sabemos que é pecado, sabemos que essa atitude humilha a outra parte, mas mesmo assim a história se repete. E somos protagonistas ou espectadoras de histórias tão bonitas que no final acabam porque a traição foi descoberta.
Muitas mulheres escolhem por nunca saber e ponto.
Outras aceitam o terceiro coração e ponto.
Algumas lutam desesperadas para vencer essa tormenta e depois tenta esquecer.
Mas as mulheres mais interessantes são as que recolhem os cacos e ressurgem depois do terremoto que assolou a sua vida.
Essas são mulheres corajosas, que não admitem viver num mundo de mentiras, que sabem perdoar sem que com isso necessitem compactuar de uma farsa.
São mulheres saudáveis, pois se negam estar num relacionamento doente, querem a oportunidade de reconstruir sua vida, recolhe cada caco dignamente, seca cada lágrima, chora a sua dor e depois renasce.
Ressurge para a vida mais forte, mais segura, bonita e se redescobre, pois é só depois de uma boa faxina que podemos sentir o aroma das flores.