“Se se morre de amor…” a volta

Elogiado por Alexandre Herculano, José de Alencar e até Machado de Assis, Gonçalves Dias nos brindou com primorosos escritos, e como todo poeta, escreveu sobre a tristeza e alegria, jogou com o amor e a perda, a astúcia e audácia em contraponto a ilusão e ao delírio.

Em um post anterior (clique aqui) uma leitora nos disse que tentou se matar por conta de um amor, de “amar demais”, de maneira desmedida. Pensar em morrer creio que deva ser um dos pensamentos mais comuns quando se trata de amor, ou melhor, quando se trata de desilusão amorosa. Vide a inspiração que muitos tem ao saber da história de Romeu e Julieta. Talvez uns entendam que o sacrifício pelo outro seja a demonstração máxima de amor possível, pois afinal de contas que razão haveria para a existência nesse mundo senão pelo amor do outro? Aquele amor, sem medida, intenso nas palavras e gestos, exagerado até no piscar de olhos e declarações. Um é o céu e terra do outro, o mundo, o chão.


Acontece que pensar assim é delegar responsabilidade demais para uma pessoa que é um simples mortal. É claro que é possível sim amar imensamente, retribuir de maneira que se faça encher os olhos, mas ser apenas a única fonte desse tal amor na vida alheia é algo que pode tornar-se um tanto quanto arriscado.

A Igreja nos mostra aquele amor retratado pela vida e morte de Jesus.Dessa maneira ficou como que legitimado todo e qualquer sacrifício em prol de uma atitude que envolva a demonstração de fé e por que não o tal amor? Dessa maneira percebo que talvez a definição de amor esteja muito próxima à dor e sofrimento, enquanto que o tal paraíso fica parecendo algo inalcansável ou um lugar cujo caminho não é nem um pouco belo e poético.

Concretamente falando, o ser humano acaba movendo-se em direção à sua própria armadilha, achando que encontrará depois a redenção plena, diante de todo esforço e sacrifício praticado. Eu pergunto, mas que redenção é essa que estamos falando? Espera um pouco, no começo era amor e agora já virou dor, sofrimento e ainda tem a parte de redenção que parece que está ligada à um “pagamento” por conta de algo vivido?

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Embora a rima amor e dor seja algo possível, não me soa como algo congruente, ao menos no campo sentimental. Talvez seja então necessário redefinir esse conceito de amor? Imagina, quem sou eu para ditar uma definição de algo tão abstrato, alías, penso que ao definir isso eu estaria abdicando de toda a forma de sentí-lo em sua máxima expressão.

Me defina o que é um beijo e saberei que você não sabe nada sobre ele….

Algumas linhas de Gonçalves dias nos dizem alguma coisa sobre a situação da nossa leitora…

Se se morre de amor

“Se se morre de amor! – Não, não se morre,
Quando é fascinação que nos surpreende
De ruidoso sarau entre os festejos;
Quando luzes, calor, orquestra e flores
Assomos de prazer nos raiam n’alma,
Que embelezada e solta em tal ambiente
No que ouve e no que vê prazer alcança!

Simpáticas feições, cintura breve,
Graciosa postura, porte airoso,
Uma fita, uma flor entre os cabelos,
Um quê mal definido, acaso podem
Num engano d’amor arrebentar-nos.
Mas isso amor não é; isso é delírio
Devaneio, ilusão, que se esvaece
Ao som final da orquestra, ao derradeiro…”

Em outro ponto o autor nos apresenta à uma forma de amar onde realmente a morte está presente

“Clarão, que as luzes ao morrer despedem:
Se outro nome lhe dão, se amor o chamam,
D’amor igual ninguém sucumbe à perda.
Amor é vida; é ter constantemente
Alma, sentidos, coração – abertos
Ao grande, ao belo, é ser capaz d’extremos,
D’altas virtudes, té capaz de crimes!

Compreender o infinito, a imensidade
E a natureza e Deus; gostar dos campos,
D’aves, flores,murmúrios solitários;
Buscar tristeza, a soledade, o ermo,
E ter o coração em riso e festa;
E à branda festa, ao riso da nossa alma
fontes de pranto intercalar sem custo;
Conhecer o prazer e a desventura
No mesmo tempo, e ser no mesmo ponto
O ditoso, o misérrimo dos entes;
Isso é amor, e desse amor se morre!”

Mas os poetas brincam com as palavras, e principalmente com a imaginação de quem as lê. Não necessariamente os poetas, mas aqueles que se propõe a abrir-se, como um revelar-se atavés de metáforas. Podemos compreender que a “morte” citada acima pode mesmo estar relacionada à morte concreta, assim como pode dizer respeito também à uma entrega, um querer estar com a pessoa amada e cuja ausência era sinônimo de tristeza que poderia levar a um estado febril. E no caso do autor isso era verdadeiro, visto que foi impedido de casar com seu verdadeiro amor, Ana Amélia, mas ele não morreu de amor, mas foi entregue ao mar aos 41 anos, em um naufrágio em 1864 próximo aos lençóis maranhenses.

Bom, vejo aqui para dizer que estou de volta ao Cérebro Masculino com posts quinzenais e para falar não só de amor. Portanto, escrevam-me, gritem, xinguem, chorem, protestem, conversem, confessem. Vamos conversar, sinta-se a vontade, puxe uma cadeira e me fale de você.

Até mais!!

Márcio Oliveira

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Meu Blog: As Palavras

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Psicólogo, consultor de relacionamentos e quase Mestre pela USP-SP. Meio NERD, completo romântico, mas não abre mão de um intenso beijo na boca e um alinhamento entre coração, corpo e mente.

2 comentários No “Se se morre de amor…” a volta

  • Ops…até q fim..vc está de volta!
    E ….em grand estilo….q post profundo..quantas reflexões!!!
    Ainda to pensativa!rsrs

  • Que boooooooooom que voltou Marcio.
    O bom filho a casa torna.
    Bom, já que você liberou comentários, vou aproveitar do seu cantinho, porque falar de amor pra mim é tudo.
    Primeiro o Amor de Jesus, o sacrificio perfeito, a morte por remissão dos nossos pecados, e não a morte por um sentimento físico, individual. Concordo com você quando diz que algumas pessoas confundem isso como sendo necessário o sacrificio da vida para provar "o amor", porém Jesus ressucitou e essa pessoas, elas não!
    E morrer de amor! Feito os poetas, disso até entendo e até morro, mas amigo, no outro dia me arrependo e volto a viver, é aquela dor, aquela tristeza, aquela gota de lágrima que vira tempestade, e acaba molhando o travesseiro e páginas e mais páginas de um diário que provavelmente só quem escreveu acaba lendo. Mas, os poetas…esses compartilham as lágrimas, as alegrias e essa morte emocional e emocionam e contagiam e por fim perpetuam esse sentimento tão bom, e tão ruim quando não é retribuido.
    Ai que temos lindos romances: Tristão e Isolda, Em nome de Deus…que reafirmam essa ideia de amor impossível e nos fazem chorar, lamentar e até mesmo nos identificar com esses personagens.
    Mas o amor mais gostoso é aquele que você acredita, compartilha, é feliz. Tão dificil de manter, mas tão necessário…não é mesmo?
    Beijuss…acho que falei demais hehehe

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