Senhor Flôr e suas duas mulheres

Sou casada há um ano e tenho um filho de 8 meses. Vivo com meu marido e nós sempre demo-nos muito bem, mas nunca fui bem sucedida com a família dele e casa onde vivemos é dos Pais dele. Cheguei a voltar para casa dos meus Pais uma vez, pois estava farta das implicâncias da minha sogra e cunhada, mas depois tudo ficou resolvido  e voltei à casa do meu marido. Sou trabalhadora e tenho um salário superior ao dele e isso deixa um clima meio diferente entre nós, mas nada que tenha sido drástico até agora.

O fato é que eu reencontrei alguém por quem senti algo no passado, 4 anos atrás e antes de conhecer meu atual marido, mas não tive nada a altura e agora esse alguém mexeu completamente comigo. Acabei me envolvendo com ele e já estamos juntos há 4 meses. Durante esse tempo fizemos muita coisa boa juntos, viajamos por alguns dias, passeamos e nos amamos profundamente e eu acabei reativando todo aquele sentimento adormecido que eu tinha.

Agora me sinto muito mal em relação a meu marido, não gosto da idéia de que o traio, minto e sou falsa para com ele. Pior é que o outro diz que me quer para toda vida, que me quer como segunda esposa e várias vezes pediu que eu marcasse um dia para ele apresentar-me a esposa.

Já me apresentou a alguns irmãos e está a planejar comprar um apartamento para nós dois. Ele é muito carinhoso, chama meu filho de filho dele também, compra roupa, brinquedos para ele, pergunta por ele, coisas que só um Pai de verdade faz.

Eu o amo, sinto que sim e não consigo me imaginar sem ele e sinto que ele me ama também. Estou a pensar em separar-me do meu marido, mas não sei como, nem sei se devo. O que eu faço agora? Ajuda-me, por favor.


Olá P.,

Espera um pouco. Deixa-me ver se entendi bem. Inspirado em fatos reais, me parece que, diretamente do além túmulo, Jorge Amado resolveu personificar na Terra uma versão masculina de sua célebre obra de 1966 intitulada: “Dona Flôr e seus dois maridos?”

Uhh, vamos lá, acho que ficaria talvez: “Senhor Flôr e suas duas esposas?”. Pouco original, mas talvez gere certa polêmica. Será que é isso mesmo que está escrito no relato da nossa leitora ou estou viajando? Me ajudem nos comentários, please.

Então quer dizer que essa “paixão antiga” mexeu e quer viver com duas mulheres? Até aí nada contra se todos(as) concordarem. Mas, minha cara leitora, sinceramente eu não entendo (ou entendo), às vezes, como pode uma aflição não ser detectada como FATO depois ou até mesmo antes de algumas escolhas.

Você relata que vive bem com seu marido e até passaram por estresse que foi superado. Ponto para o casal, ótimo. Acontece que houve aí uma inquietude, um algo que estava “faltando”, mas vou lhe dizer uma coisa, em todo, todo relacionamento algo irá faltar. Na verdade, na busca por algo na vida sempre a falta nos acompanhará. Digo algo porque adoto, no meu entendimento e me aproprio do conhecimento da psicanálise, que o que nos move e nos mantém nesse mundo é uma busca, seja qual for, porque atingir tudo, exatamente tudo, o ápice, o nirvana, o gozo pleno é o limite entre o ser humano e a morte, porque nada haveria depois disso senão o encerramento da existência. Então, enquanto esse dia não chega, somos assim, um montante de átomos com coisas faltando. Uma casa com cômodos a serem preenchidos.

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Com isso há a tenra possibilidade de que podemos ser atravessados por uma paixão, amor, tesão ou algo avassalador que não necessariamente tenha nome. Realmente isso pode acontecer, mas a questão principal é: O que fazer com isso? Vencer ou ser o vencido(a)? Porque temos a nítida sensação que quando isso acontece parece que nos preenche de tal maneira como se nada, absolutamente nada mais nos faltasse.

É um truque, claro, uma armadilha que fatalmente cairemos. Isso não é ruim, reafirmo, mas ao acontecer quando se está em um relacionamento com alguém e você não for leal, legal, sincera e honesta o suficiente aí com certeza a tal aflição virá a cavalo. E é bem o que acontece.

Agora, você deixou passarem 4 meses, e ainda vem-me dizer que se sente mal? Como assim sente-se mal? Já sei, você queria ter alguma “certeza” de que o senhor Flôr “gostasse” de você ao ponto de repensar se continuaria com seu marido ou não, e enquanto isso não vinha você estava apenas experimentando toda essa situação para ver “no que iria dar” porque se não desse certo, você ficaria no casamento e o seu marido nem precisaria saber.

Essa tal certeza todo mundo procura, mesmo que não seja objetivamente. E essa procura é e sempre será uma ilusão porque não há certeza alguma por mais seguro que o relacionamento seja. Não há certeza no minuto seguinte (angustiante isso não?). Podemos apenas viver, e sustentar nosso amor no agora, e creio eu que isso já é suficientemente belo, poético e verdadeiro, mas o ser humano insiste no “algo a mais”, naquilo que “falta” e vai ai criando, escolhendo situações que lhe causam o sofrimento. Todos nós somos culpados.

Em termos práticos, você não sabe como separar, mas há manual pra isso? Depois de todo o ocorrido nada mais justo que uma conversa franca, dedo na ferida entende? Assim ao menos creio eu, que ele sofrerá tudo de uma vez e poderá (triste ou não) continuar sua caminhada. Não seja egoísta ao ponto de ficar adiando isso. Se você já encontrou outra possibilidade de ser feliz, peço-lhe gentilmente que o deixe ser feliz também, afinal de contas as mulheres buscaram tanto se equipararem aos homens, mas entenda uma coisa, existem direitos e deveres ok?

E outra, quem é você para achar se deve ou não ficar com seu marido atual? Como se a decisão fosse somente sua, mais uma prova de que esse relacionamento tem sido apenas de uma pessoa (pelo menos nos últimos quatro meses), mas não é algo a dois? Então que a opinião dele seja ouvida porque quem garante que ele irá querer ficar com você? Ou você pretenderia não contar nada a ele caso não quisesse separar?

Você já disse que ama o senhor Flôr e não consegue se imaginar sem ele. Ta aí a resposta, na verdade a resposta você já sabia, esta faltando aí é coragem. E isso não sou eu e ninguém quem dará a você.

Até mais!!

Márcio Oliveira

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Meu Blog: As Palavras

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Psicólogo, consultor de relacionamentos e quase Mestre pela USP-SP. Meio NERD, completo romântico, mas não abre mão de um intenso beijo na boca e um alinhamento entre coração, corpo e mente.

9 comentários No Senhor Flôr e suas duas mulheres

  • com certeza que esta bem escrito porque ela diz: segunda esposa e várias vezes pediu que eu marcasse um dia para ele apresentar-me a esposa, o que significa que ele pode ser de um pais em que o homem pode ter varias esposas eu hemmmm deixar de ser primeira e unica para ser segunda de muitas

  • Amanda Machado

    Se foi erro de digitação, se não foi.. só sei que, do fundo do meu coração, que situação mais triste.. Imagine quando o rapaz souber?!
    Nossa, o que ta acontecendo gente, será que um casamento como dos meus pais, por exemplo, que tem durado mais 25 anos nao existe mais? Eles tem problemas e tudo mais como todos, mas se amam e passaram por tantas coisas juntos..
    O que as pessoas esperam? A paixao esfriou e ja acham que acabou o amor, quando na verdade essas sao coisas completamente distintas?!
    Vou ter fé e enquanto esperar vou me preparar e fazer o melhor de mim pra quem eu escolher, pelo simples fato de querer ama-lo, independente de qualquer coisa..

  • Simmm.. o Deixar o sentimento do amor livre.. com certeza..
    não somos donos nesse mundo de nada e de ninguém..
    ter a pessoa amada ao lado.. junto.. parceiro..isso sim é amor..
    ter a felicidade plena em saber que ele ao menos está bem…
    o amor é presente.. é livre.. é graça..é sentimento bom.. é tranquilidade..vivacidade
    O EGO , ahhh o Ego…tenho um post no meu blog sobre o EGO do Ser humano..
    É a parte mais superficial do ser humano ..é algo ainda a ser estudado… quanto maior o ego..o egocentrismo, mais aprisiona a pessoa… caindo numa neura perigosa à sua estabilidade emocional imensa…tem sempre a necessidade de provar algo.
    Mas temos que admitir todos nós humanos(até eu que sou metade cavalo ..metade humano por conta do meu signo hhehe) temos dentro de nós um ego.. grande ou não..isso é bom ter.. e ter alguém que alimente esse EGO..é sempre prazeiroso…
    Enfim eu realmente acho que este cara deve ter o Alter EGO nas alturas …
    se acha.. e ela acha que isso é amor…
    ama a si primeiro..

  • Se encararmos essa hipótese dela dividir o namorado com outra pessoa, penso eu, cá com meus botões, que estamos diante de um ser superior.

    Sim… li algo sobre isso em algum lugar… o sentimento do “meu” seria uma identificação com o ego, ou seja, ilusão que logo se transformará em sofrimento. Quando entendemos que nada pode nos pertencer de fato e deixamos o ser amado livre, aí sim estamos diante do amor verdadeiro…

  • Gabi essa história ta mais enrolada que novelo de lã..
    realmente pode até ser isso.. tmb se analisar bemmmm ela aceitaria tao de boa.. ser uma segunda mulher.???. tipo na india como a Thaily disse? haua
    ahh eu nao sou tão condescendente assim..sou monogâmica sempre…
    ”’pacote de bolachas que nao estao em fuga”’ =)
    neh ? doninho? 😛

  • Então, Bruna.
    Talvez esse “que me quer como segunda esposa” seja porque ele já foi casado e agora não é mais…

    Continuo com dúvidas… não coloco minha mão no fogo por essa história!

  • “Paixão antiga sempre mexe com a gente…” rsrs…

    Bom… vamos ao primeiro ponto desse caso… com quem vc vai ficar? Vc já sabe que quer ficar com o “Senhor Flor” só está sem “coragem” de largar o seu marido… ou com medo, talvez, do amante mudar de idéia depois que vc se separar…
    Me desculpe mas pra mim você não quer é “largar o osso”… Tá cômodo pra você essa situação neh?! Dois homens… um pra vc fazer de trouxa e outro pra “saciar seus desejos de adolescente”… tentando consertar algo “errado” que você fez no passado…
    Garota, deixe de ser “gulosa” e “egoísta”. Se você já encontrou a felicidade nos braços de outro, deixe seu marido ser feliz também…

    Agora, quanto ao segunda questão aí… aliás, não é uma questão neh, porque você mencionou com muita naturalidade que será a “segunda esposa” do cara… e parece que está tudo bem pra você… Ele é indiano é?! rsrs.
    Mas claro que é algo natural pra você neh, o que eu to dizendo? Você tem dois maridos também, a diferença é que um deles é corno sem saber… aliás, aposto que se ele topasse vocês viveriam assim…
    Que mundo é esse?! Onde se aceita “dividir” quem se ama com uma ou mais pessoas… como vai ser quando você for morar com ele? As segundas, quartas e terças ele fica com uma e as terças, quintas e sábados com a outra? Ou vai ser tudo junto e misturado? Meu Deeeeus… prefiro não imaginar… haha…

  • ….não é Erro de digitação não
    ..veja a frase como um todo:
    ”..que me quer como segunda esposa e várias vezes pediu que eu marcasse um dia para ele apresentar-me a esposa.”
    percebe..é segunda esposa mesmo…
    Muito ”malucona” einh.. infelizmente isso acontece as pencas por aí
    a fidelidade anda tão banal.. a falta de compromisso com o outro e consigo mesma…a dissimulação.. a falta de comprometimento. Voce esta experimentando sim, pra ver qual vai ser…
    É Marcio isso realmente é um relacionamento solitário..onde somente o marido vive..porque a nossa amiga esta em outra faz tempo..
    eu diria ”via de mão única”
    Amiga seja leal com seu marido e consigo mesma.. leal aos seus sentimentos..
    por mais que eu ache que vai quebrar a cara.. porque me desculpe a sinceridade.. ele te quer como segunda esposa?aiaiai…e a terceira vai vir quando? Poligâmia?Isso no Brasil é crime einh
    .aaaahhhh se bem que adultério tmb neh.. xiii Sorry Dear….
    Mas a pior prisão é a privação de sentimentos… de ser vc ..e ter direito de amar e ser amada.. Porém, contudo, entretanto, ora, todavia ( haja conjunções aqui viu!) seu marido tamb merece ser feliz.. seguir o caminho dele .. e encontrar alguém que seja mais verdadeira..
    Desculpe mais uma vez a franqueza.. mas eu detesto é mentira….
    Ecara a situação que vc mesma criou.. e ergue a cabeça e faça algo digno.. conte a verdade…pelo menos…
    PELO MENOS!!!

  • ???
    Realmente fica a dúvida.
    Mas pode ter sido apenas um desencontro de palavras, um mero erro de digitação. Talvez ela quisesse dizer: apresentar-me COMO esposa e não a esposa.

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