
Olha só, eu poderia jurar que tava esquecendo você… Mas que nada! Bastava só eu conhecer alguém que usasse o mesmo corte de cabelo que o seu ou tivesse o mesmo carro que todas as lembranças vinham à tona. Era só eu tropeçar num casal apaixonado que eu imaginava você e eu. Teu perfume se espalhava pelo ar. Que coisa mais louca. Era como se todos os pescoços do mundo tivessem o seu cheirinho. Como se todas as vozes e os olhares e os sorrisos e os gestos fossem iguais aos seus. E quando alguém me abraçava? Nossa! Eu podia fechar os olhos e saber que era você ali. Que aquelas mãos que deslizavam inocentemente pela minha cintura num abraço qualquer eram as suas — embora as suas não fossem tão ingênuas assim. E eu sinto sua falta. Sinto sua falta e aí é que sei que não tô te esquecendo coisa nenhuma. Que é você quem eu quero pra ontem, pra hoje e até pra quando der. Que é pensando em você que eu escolho a minha roupa mais bonita ao sair de casa, na esperança da gente se esbarrar por aí. A vida tem dessas coisas…
Por que é tudo tão difícil quando se trata da gente? É como se o nosso relacionamento fosse um quebra-cabeça e nós fôssemos duas peças que não se encaixam de jeito nenhum. Mas, vai, diz isso pro meu corpo que sente um magnetismo absurdo quando tá perto do teu. Acho que minha pele nunca vai me perdoar por ter tocado a tua. E quer saber? Duvido que esse seu olhar tão íntimo, tão intenso, tão cheio de desejo possa ser público, compartilhado com facilidade. É muito íntimo para ser revelado a mais gente. Tenho certeza que é só meu, por mais que você insista em dizer que não. Eu sei que você não trata todas assim. Eu sei, não adianta negar. Eu sinto que comigo é diferente. Como posso tá tão errada, meu deus? Não fosse isso, você não me ligaria para reclamar dos péssimos motoristas no trânsito, não atenderia minha ligação enquanto dirigia e nem responderia minhas mensagens mesmo quando estivesse atolado de coisas no escritório. Eu sei.
Eu sei, também, que amanhã vai ser um dia normal, assim como qualquer outro. E, quem sabe, eu ache mais uma vez que tô te esquecendo, que, aos poucos, tô tirando você da minha cabeça. Talvez eu até esteja mesmo. O problema é quando a saudade aperta, sabe? Aí, meu filho, eu vou pegar o celular mais uma vez, te escrever uma mensagem e depois apagar, te ligar e desligar antes de chamar. Vou vasculhar as suas fotos, ouvir as músicas que tocavam no carro quando estávamos juntos, vou fechar os olhos e voltar no tempo por alguns minutos. Vou relembrar com carinho os recados, os momentos, as coisas ditas… E tudo isso vai doer. Vai porque quando a saudade não cabe mais dentro da gente, ela dói. E vai ser assim até quando eu conseguir te esquecer de verdade. Até quando outra pessoa aparecer na minha vida e me fizer sentir vontade de escrever pra ela também — estranho, né? Mas é que eu só escrevo pra quem é, realmente, importante pra mim. Enquanto isso eu fico aqui, materializando você ao meu lado, buscando em outras bocas beijos com o mesmo gosto que o seu, tentando encontrar alguém que chegue o mais perto possível do que você é, talvez assim a dor seja menor. Eu fico aqui, apenas com as lembranças do que a gente viveu e uma saudade imensa que insiste em dizer o tempo inteiro que, sim, eu ainda penso em você, meu amor.
Mari
5 comentários No Uma carta que escrevi
LINDO!!!
Eu queria ter escrito essa carta Mari, gostei muito!
Own, obrigada, Ale!
lindo, lindo lindo Mari… me vi nesse texto, lembrei de muitas coisas…
Simplesmente excelente!
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